terça-feira, 6 de agosto de 2013

Arte.

Vivemos cercados de pensamentos. Não apenas os que estão em nossa cabeça. Cada ideia repentina, aleatória ou planejada que acaba tomando forma no mundo real é parte do autor – de nós. Desde a planta de uma casa, a partir do conhecimento básico, coordenação e esforço dos trabalhadores, até os estigmas do dia-a-dia dos futuros moradores da casa em si e as lembranças ali construídas por eles, tudo se junta em uma grande rede de construções, resumida apenas com uma imagem.

Cada pensamento que vai surgindo e evoluindo como lembrança é uma semente de projeto com o potencial de aparecer no mundo real. Os sons naturais do lugar de origem sem querer inspiram uma criança a compor, e em alguns anos no futuro famílias inteiras aplaudem de pé as obras criadas pelo mestre e trabalhadas em detalhes por jovens talentos de lugares diferentes. Frases, apelidos e fantasias que fazem a mente de um pequeno qualquer um dia se interessar pela interpretação, encarnar na pele de um alguém fictício e com outros atores recriar num palco a história um dia pensada por uma mente no passado. Ideias trazidas e misturadas de toda a vida fazem um jovem as quebrar, repetir, adicionar e concretizar livros inteiros, universos de mentira minuciosamente planejados, e no livro que um dia vai na mão de muitos também estará contida sua mente eternizada.

Se não houvesse esse significado tão gritante do pensamento agindo no mundo real e sólido, o ser humano não passaria de um macaco cabeçudo que brinca de fogo e pinta cavernas (obviamente, nem mesmo isso). Do mesmo modo que o mistério da vida surgiu no universo, algo tão improvável que parecia antes uma piada irônica dos deuses do que realidade, também os pensamentos vão fazendo parte da edificação do mundo. O que não é arte? Não é uma plantação, cuidadosamente enfileirada de plantas a crescer, uma obra de arte? Não o é também a casa humilde do interior, cada objeto em seu lugar para um fim específico? Parece algo tosco e comum, que tomamos como natural. Mas não.

Na mente não há nenhum poder misterioso ou telepático que faz magias, como dizem os charlatões. Na mente há algo muito mais incrível, mas que infelizmente poucos percebem. Se isso é tão evidente em objetos de sobrevivência, o quão mais fantástico não seria em produtos feitos com o objetivo da catarse?

Em cada concerto, ondas sonoras vazias produzidas por instrumentos de matéria-prima trabalhada ressoam em harmonia e ganham significado ao expressar a dor, a alegria ou a ferocidade do músico, fazendo arrepiar a alma dos ouvintes.

Em cada peça, a história um dia real na mente do criador invade o mundo físico em que não passa de uma mentira, tornando-se por alguns instantes verdade na carne dos atores e na emoção dos espectadores.

Em cada livro, o papel que um dia esteve em árvores, as cores da capa e a tinta da impressão que tornaram-se algo mais cumprem sua função de fazer a mente de qualquer ser pensante viajar e aventurar-se dentro da mente e do mundo do escritor, confundindo a ilusão de dentro com a ilusão de fora.

Se não há sentido na vida, somos os principais responsáveis para construir essa expressão milagrosa que tira algo do nada e transforma o vazio em emoção.

- Salut.
 

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